Acribia - Um bocadinho de rigor não faz mal a ninguém.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

No meu tempo.

Quando era miúda, lá no início da década de oitenta do século passado (pasme!), eu perdia algum tempo, que então era coisa que me sobrava, a matutar sobre como eu seria no (então) distante ano 2000.
Na verdade o ano 2000 agora também me parece distante, mas é quando olho para trás (humpf)...
Quando era miúda achava imensa piada quando as pessoas começavam suas frases com a expressão "no meu tempo...". Se bem que lá atrás, quando eu era miúda, o "no meu tempo" costumava ser mais longínquo, pois tenho a sensação que naquele tempo o tempo daquelas pessoas passava mais devagar. Quero com isso dizer que as coisas agora evoluem tão depressa, e há tanta novidade todos os dias que um adolescente de 17 anos já pode dizer que "no meu tempo só tínhamos mini disc, e agora olha o MP4 aí..." com um ar de dinossauro tecnológico.

Pois então aqui fica a lista do meu tempo:

  • no meu tempo as feridas curavam-se com mertiolate, nome vulgar da tintura de timerosal. Meriolate ardia muito, muito mesmo. Quando esfolava os joelhos eu chorava sempre, muito... Não tanto pelo machucado, mas sobretudo por antecipação: sabia que aquilo ia arder imenso para fazer o curativo! Depois veio o mertiolate incolor, a seguir o mertiolate em spray (que trazia o soprar incorporado). Aí deu de dizer que mertiolate fazia mal e era proibido! Logo quando fizeram um que não ardia (mas também não prestava). Pode?
  • no meu tempo criança amarela e sem apetite tomava Biotónico Fontoura. Era uma beberagem escura que vinha numa garrafa estranha, ficava sempre em cima da geladeira. Adivinha? Foi proibido também!!! Descobriram que tinha 9% de álcool!!! Daí venha talvez a minha apetência pelas, digamos, coisas etílicas! Litros de biotónico que tomei às colheradas!!!
  • diário era escrito e guardado à cadeado, e não escancarado na internet.
  • Plutão ainda era um planeta.
  • carteiro trazia notícias de gente querida e distante. Hoje só traz contas, notificações judiciais e multas. É a vilanização do carteiro. Tá mal!
  • o mais próximo do msn que existia era o pan friend. A professora trazia uma lista de outras crianças que moravam no exterior, por país. Escolhíamos e mandávamos cartas, postais, fotos... Igualzinho agora, só que antes a cadência das mensagens era, digamos, na melhor das hipóteses, mensal. Hoje se um mail demora mais que 15 min para ser respondido estamos a praguejar... msn então.... (aliás, para ser franca eu sou do tempo do ICQ, lembra?)
  • música era gravada em cassete e fazíamos cópia de música da rádio. Havia programas de rádio sem intervalos e sem narração, em que os blocos duravam exactamente o tempo das fitas (60, 90 ou 120 min). Era a cópia pirata na sua génese. Igual, mas com menos qualidade e um anúncio ou outro das Casas Bahia pelo meio.
  • o meu sonho de consumo era fazer compras no Mappin.
  • tinha Pogobol!!! E Atari!!! E cassetes de vídeo!!
  • o máximo era ter um walkman da Sony!
  • para telefonar íamos ao orelhão. Ou à casa da vizinha. Na melhor das hipóteses nós éramos a vizinha. Quando ninguém atendia presumia-se não se encontrar ninguém em casa, sem ressentimentos.
  • pagar compras só em dinheiro vivo ou cheque. Levantar dinheiro, só no banco, depois da fila e assinatura de um monte de papelada.
  • contador de luz tinha um monte de reloginhos pequenos de ponteirinhos malucos.
  • recebíamos postais de aniversário e Natal. Eram todos iguais, o nosso sorriso é que fazia a diferença.
  • bicicleta era Caloi.
  • carro era Wolkswagem. Ponto final.
  • Crunch era Cri. Bolachinhas era dos Monstrinhos Crec-Crec.

Credo, estarei velha?