Quando era miúda, lá no início da década de oitenta do século passado (pasme!), eu perdia algum tempo, que então era coisa que me sobrava, a matutar sobre como eu seria no (então) distante ano 2000.
Na verdade o ano 2000 agora também me parece distante, mas é quando olho para trás (humpf)...
Quando era miúda achava imensa piada quando as pessoas começavam suas frases com a expressão "no meu tempo...". Se bem que lá atrás, quando eu era miúda, o "no meu tempo" costumava ser mais longínquo, pois tenho a sensação que naquele tempo o tempo daquelas pessoas passava mais devagar. Quero com isso dizer que as coisas agora evoluem tão depressa, e há tanta novidade todos os dias que um adolescente de 17 anos já pode dizer que "no meu tempo só tínhamos mini disc, e agora olha o MP4 aí..." com um ar de dinossauro tecnológico.
Pois então aqui fica a lista do meu tempo:
Pois então aqui fica a lista do meu tempo:
- no meu tempo as feridas curavam-se com mertiolate, nome vulgar da tintura de timerosal. Meriolate ardia muito, muito mesmo. Quando esfolava os joelhos eu chorava sempre, muito... Não tanto pelo machucado, mas sobretudo por antecipação: sabia que aquilo ia arder imenso para fazer o curativo! Depois veio o mertiolate incolor, a seguir o mertiolate em spray (que trazia o soprar incorporado). Aí deu de dizer que mertiolate fazia mal e era proibido! Logo quando fizeram um que não ardia (mas também não prestava). Pode?
- no meu tempo criança amarela e sem apetite tomava Biotónico Fontoura. Era uma beberagem escura que vinha numa garrafa estranha, ficava sempre em cima da geladeira. Adivinha? Foi proibido também!!! Descobriram que tinha 9% de álcool!!! Daí venha talvez a minha apetência pelas, digamos, coisas etílicas! Litros de biotónico que tomei às colheradas!!!
- diário era escrito e guardado à cadeado, e não escancarado na internet.
- Plutão ainda era um planeta.
- carteiro trazia notícias de gente querida e distante. Hoje só traz contas, notificações judiciais e multas. É a vilanização do carteiro. Tá mal!
- o mais próximo do msn que existia era o pan friend. A professora trazia uma lista de outras crianças que moravam no exterior, por país. Escolhíamos e mandávamos cartas, postais, fotos... Igualzinho agora, só que antes a cadência das mensagens era, digamos, na melhor das hipóteses, mensal. Hoje se um mail demora mais que 15 min para ser respondido estamos a praguejar... msn então.... (aliás, para ser franca eu sou do tempo do ICQ, lembra?)
- música era gravada em cassete e fazíamos cópia de música da rádio. Havia programas de rádio sem intervalos e sem narração, em que os blocos duravam exactamente o tempo das fitas (60, 90 ou 120 min). Era a cópia pirata na sua génese. Igual, mas com menos qualidade e um anúncio ou outro das Casas Bahia pelo meio.
- o meu sonho de consumo era fazer compras no Mappin.
- tinha Pogobol!!! E Atari!!! E cassetes de vídeo!!
- o máximo era ter um walkman da Sony!
- para telefonar íamos ao orelhão. Ou à casa da vizinha. Na melhor das hipóteses nós éramos a vizinha. Quando ninguém atendia presumia-se não se encontrar ninguém em casa, sem ressentimentos.
- pagar compras só em dinheiro vivo ou cheque. Levantar dinheiro, só no banco, depois da fila e assinatura de um monte de papelada.
- contador de luz tinha um monte de reloginhos pequenos de ponteirinhos malucos.
- recebíamos postais de aniversário e Natal. Eram todos iguais, o nosso sorriso é que fazia a diferença.
- bicicleta era Caloi.
- carro era Wolkswagem. Ponto final.
- Crunch era Cri. Bolachinhas era dos Monstrinhos Crec-Crec.
Credo, estarei velha?